A Vitamina D é um produto produzido pela pele, através dos raios ultravioletas, aquando da exposição solar. Vinte minutos diários de exposição solar nos braços e nas pernas, sem protetor solar, são suficientes para termos a quantidade de Vitamina D necessária no organismo. No entanto, mais de 60% da população portuguesa tem níveis insuficientes desta vitamina que, tecnicamente falando, é uma hormona, mas ainda hoje é chamada de vitamina porque antes pensava-se que era obtida através da alimentação.
A Vitamina D previne o raquitismo nas crianças (baixa estatura, ossos arqueados e carocos nas costelas) e a osteomalacia nos adultos (ossos frágeis e quebradiços, falta de força, dor muscular e tendência à depressão).
Com a ajuda do professor José António Pereira da Silva, Diretor da Clínica Universitária de Reumatologia, em Coimbra, e do Fórum D (apenas dedicado a esta vitamina), também na mesma cidade, foi elaborado um guia para sabermos tudo sobre esta hormona.
Depois de produzida na pele, precisa de ser ativada no fígado e nos rins, para exercer os seus efeitos. O resultado desses efeitos é essencial para que os intestinos aproveitem o cálcio proveniente da alimentação que, depois, é depositado nos ossos. Ela faz aumentar o aproveitamento do cálcio dos alimentos que comemos e diminui a sua perda pela urina, de maneira a mantê-lo no sangue. Sem a Vitamina D não há cálcio normal no sangue, o que obriga o organismo a ir buscá-lo ao “armazém”, que é o esqueleto. Ou seja: começa a correr os ossos e a contribuir para o aparecimento de osteoporose.
A Vitamina D interfere em quase todos os mecanismos fisiológicos do organismo e tem recetores que a sintetizam para chegar às várias partes do corpo (pele, cabelo, coração, artérias, músculos, ossos, intestinos…).
Alguns alimentos contêm vitamina D (o sobejo dos óleos de fígado de peixe e alguns peixes gordos, como o salmão e a sardinha), mas seria preciso consumi-los diariamente, em quantidades impraticáveis para serem uma fonte suficiente. As quantidades que provêm de alimentos fornecem, em média, entre 2% a 20%, portanto o essencial é a exposição solar.
Acontece que só conseguimos produzir Vitamina D entre as 09:30 e as 16:00. Fora desse horário, o Sol está demasiado inclinado para a produzir. Em Portugal, o Sol não nos deixa fabricá-la entre Outubro e Março, porque a inclinação com que a radiação solar atinge a Terra é demasiado baixa. Ou seja: só há produção de Vitamina D entre as 09:30 e as 16:00 de Abril a Setembro!
Atente nesta dica: Se estiver ao sol e a sua sombra for maior do que a sua altura, não está a produzir Vitamina D. Isto porque o astro está a menos de 45 graus de inclinação.
E embora não haja uma prova de causa efeito, estudos têm demonstrado que as pessoas com doenças como Alzheimer, artrite reumatoide, hipertensão e epilepsia têm, em média, estatisticamente, níveis mais baixos de Vitamina D. No caso do cancro, as suas formas mais graves também têm sido associadas a níveis mais baixos desta vitamina.
Alguns dos estudos já efetuados sugerem que a correção da carência previne a doença. Num país do Norte da Europa o Ministério da Saúde decidiu, em tempos, que todas as crianças que nascessem naquele ano iriam tomar, durante 12 meses, um suplemento de 1.000 unidades por dia. Sessenta anos mais tarde, as pessoas desse ano de nascimento tinham muito menos diabetes do que as do ano anterior e foi o único fator diferente.
No entanto, a maior parte dos estudos recentes, em relação à ação desta, tem tido resultados negativos. Muitos médicos dizem que não receitam suplementos aos seus doentes, porque não têm provas da eficácia do medicamento. Em Portugal foi apresentado um estudo, feito com 3 mil cidadãos, maiores de 18 anos, cuja conclusão se alinha: 66% das pessoas têm níveis insuficientes desta vitamina, 30% apresentam níveis razoáveis e apenas 4% têm os valores normais.
Com tanto sol, porque temos défice? A mudança de hábitos da população contribui para isso. A exposição solar é hoje muito inferior àquela que tínhamos há anos atrás. É devida à preocupação com o cancro da pele, quando apanhamos sol pomos protetor solar e evitamos as horas de maior calor. Mas há riscos para a pele por apanharmos 20 minutos diários de exposição solar, nos braços e nas pernas, sem protetor. Tal não corresponde a nenhum aumento significativo de cancro da pele.
Em Portugal as autoridades de saúde apenas recomendam a suplementação para o primeiro ano de vida, ao contrário da política seguida em vários países da Europa, principalmente no Norte, onde a carência é bastante acentuada e são mais proativos e racionais nas questões de saúde. A suplementação é considerada o principal fator no ganho em saúde para toda a população. A altura dos novos holandeses e noruegueses — dos mais altos do mundo — é atribuída, sobretudo, a essa suplementação.
Por Helena Duarte
Publicado no Boletim Nº 51 de abril de 2024
Fonte: Revista Visão Saúde